lunes, 30 de abril de 2012

Lila Downs - Pecados y Milagros

Pecados y Milagros

O crescimento do reconhecimento público da cantora Lila Downs transforma hoje um álbum novo como "Pecados y Milagros" num acontecimento. A artista mexicana, de visual carismático semelhante à da pintora compatriota Frida Kahlo - vestidos coloridos, tranças e adereços índios, pele morena -, é hoje um dos grandes ícones da world music e uma das grandes embaixadoras da música mexicana, à custa de uma agenda ao vivo bem preenhida, de participações em bandas sonoras de filmes (o passo mais significativo é, sem dúvida, o biopic "Frida") e, acima de tudo, de uma discografia exemplar.

"Pecados y Milagros", com a militância política e as referências à religião católica sempre à superfície, é outro caldo cultural, que estica o manifesto de Lila Downs entre a cultura indígena (especialmente da sua região de Oaxaca) e a ocidental (laivos de pop-rock e até de electrónica), entre a disposição intimista das rancheras mexicanas e a festa folclórica das cumbias. Nada que surpreenda, portanto. Downs habituou-nos, e bem, a isto.

O sétimo álbum de estúdio da cantora centro-americana, assente na língua castelhana, divide-se entre composições originais (de Downs e do seu marido e colaborador Paul Cohen) e muitas versões, desde temas de músicos pop mexicanos como Marco Antonio Solís a monstros das rancheras como José Alfredo Jiménez e Cuco Sánchez, o clássico do estilo huapango, 'Cucurrucucú Paloma' (que Caetano Veloso também canta no filme de Pedro Almodóvar, "Fala com Ela") ou o grande tema que imortalizou o compositor mexicano do século XIX Macedonio Alcalá, 'Dios Nunca Muere'. As secções de metais mariachi colam-se como um íman às canções, e há, inclusive, momentos de festança, como 'Zapata Se Queda' que se podia misturar no meio do reportório de Manu Chao.

Mas há uma diferença, substancial, face ao que recebíamos de Lila Downs. A sua música vinha sendo uma estalada que nos acordava do desmaio da mediania com que nos confrontamos amiúde. Mas "Pecados y Milagros" é Lila Downs em regime light e facilitista, para consumo externo acessível, que amolece não só a força autêntica que lhe conhecíamos como a dos temas nos quais pegou: 'Vámonos' e 'Fallaste Corazón', derivados das mãos de Jimenez e de Sánchez para Downs, passam a banais.

"Pecados y Milagros" é uma espécie de postal turístico de Oaxaca - simpático, leve. A excepção clara é 'Xochipitzahua (Flor menudita)', um minuto etéreo de Primavera, num lindíssimo falsete de Downs. A partir da faixa seguinte, a nº 10 'Palomo del Comalito', volta tudo ao normal, à vulgaridade. (Cotonete)



Mezcalito by Lila Downs on Grooveshark

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