Em
2009, Aline Calixto despontou no mercado fonográfico com o lançamento
de álbum superestimado, cujo repertório remetia à vivência mineira dessa
cantora nascida no Rio de Janeiro (RJ), mas criada nas Geraes. Sucessor
de Aline Calixto (2009), Flor Morena
chegou em junho de 2011 com alteração na rota
geográfica do samba propagado na voz afinada da intérprete. Embora faça
escalas em vários pontos da crioula nação do samba, reverenciada em Cabila
(Peu Meurray e Leonardo Reis), o segundo disco de Calixto aposta na
diversidade do gênero ao mesmo tempo em que aproxima mais a artista do
samba cultivado nos mais nobres quintais cariocas - a ponto de ter sua
inédita faixa-título assinada pela dupla de bambas Arlindo Cruz e Zeca
Pagodinho (com a adesão de Jr. Dom). Flor Morena
- o samba fornecido pelo trio carioca para Calixto - segue linha
melódica e poética pouco original, mas é belo e dá o tom elegante de um
disco que começa em clima de terreiro com a Gemada Carioca oferecida por Martinho da Vila. A letra desenha a árvore genealógica da cantora. Na sequência, Me Deixa que Eu Quero Sambar
- grande tema de Mauro Diniz - celebra o próprio samba, citando em seus
versos a luz divina que iluminou a obra atemporal de criadores como
Candeia (1935 - 1978). É sob essa luz que floresce ainda a regravação de
Coração Vulgar (Paulinho
da Viola), samba de 1965, alvo de registro interiorizado. Contudo, certa
de que o samba não tem fronteiras, Calixto extrapola o quintal carioca
em Flor Morena. Caçuá (Edil Pacheco e Paulo César Pinheiro) - tema já gravado por Edil no álbum O Samba me Pegou (2003) - evoca a sensual manemolência baiana com citação de Maracangalha (Dorival Caymmi) enquanto De Partir Chegar (Joca Perpignan e João Cavalcanti) transita com poesia entre a ciranda e o maracatu de Pernambuco. Já Conversa Fiada
- única faixa assinada somente por Calixto - esboça diálogo entre o
samba e a salsa que não chega a ganhar forma e consistência. Ainda na
seara autoral, Calixto é parceira de Thiago Paschoa e Arhtur Maia na
romântica Teu Ouvido, faixa em que o som do bumbo simboliza as batidas descompassadas de um coração apaixonado. Em linha mais bem-humorada, Je Suis la Maria
(Dora Lopes, Jorge Rangel e Jean Pierre) leva o samba para um salão de
gafieira por conta dos sopros arranjados por Marcelo Martins. Aliás, há
todo um frescor nos arranjos que valorizam até sambas medianos como Blá Blá Blá (Serginho Beagá) - efeito provável da produção de Flor Morena
ter sido confiada ao baixista Arthur Maia, nome pouco pronunciado nos
quintais onde se cultiva o samba mais tradicional. Maia pilotou o álbum
com respeito às tradições do samba, mas sem os clichês recorrentes em
discos do gênero. Neste CD pautado pelo sincretismo musical, Ecumenismo (Moacyr Luz e Nei Lopes) reza pela cartilha da diversidade religiosa no mesmo tom libertário da miscigenação saudada em Cafuso (Toninho Geraes e Toninho Nascimento). Cafuso prepara o terreiro para o fecho de ouro do disco, Reza Forte
(Rodrigo Maranhão e Mauro Reza), samba-jongo que explicita a criação
mineira da artista enquanto festeja a nobreza suburbana na qual está
enraizado o samba cultivado nos quintais do Rio de Janeiro. Muito
superior ao primeiro disco da cantora, Flor Morena alicerça a voz, a imagem e o samba reverente de Aline Calixto. (Notas Musicais)
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