sábado, 29 de diciembre de 2012

Aline Calixto - Flor Morena (2011)

Flor Morena

Em 2009, Aline Calixto despontou no mercado fonográfico com o lançamento de álbum superestimado, cujo repertório remetia à vivência mineira dessa cantora nascida no Rio de Janeiro (RJ), mas criada nas Geraes. Sucessor de Aline Calixto (2009), Flor Morena chegou em junho de 2011 com alteração na rota geográfica do samba propagado na voz afinada da intérprete. Embora faça escalas em vários pontos da crioula nação do samba, reverenciada em Cabila (Peu Meurray e Leonardo Reis), o segundo disco de Calixto aposta na diversidade do gênero ao mesmo tempo em que aproxima mais a artista do samba cultivado nos mais nobres quintais cariocas - a ponto de ter sua inédita faixa-título assinada pela dupla de bambas Arlindo Cruz e Zeca Pagodinho (com a adesão de Jr. Dom). Flor Morena - o samba fornecido pelo trio carioca para Calixto - segue linha melódica e poética pouco original, mas é belo e dá o tom elegante de um disco que começa em clima de terreiro com a Gemada Carioca oferecida por Martinho da Vila. A letra desenha a árvore genealógica da cantora. Na sequência, Me Deixa que Eu Quero Sambar - grande tema de Mauro Diniz - celebra o próprio samba, citando em seus versos a luz divina que iluminou a obra atemporal de criadores como Candeia (1935 - 1978). É sob essa luz que floresce ainda a regravação de Coração Vulgar (Paulinho da Viola), samba de 1965, alvo de registro interiorizado. Contudo, certa de que o samba não tem fronteiras, Calixto extrapola o quintal carioca em Flor Morena. Caçuá (Edil Pacheco e Paulo César Pinheiro) - tema já gravado por Edil no álbum O Samba me Pegou (2003) - evoca a sensual manemolência baiana com citação de Maracangalha (Dorival Caymmi) enquanto De Partir Chegar (Joca Perpignan e João Cavalcanti) transita com poesia entre a ciranda e o maracatu de Pernambuco. Já Conversa Fiada - única faixa assinada somente por Calixto - esboça diálogo entre o samba e a salsa que não chega a ganhar forma e consistência. Ainda na seara autoral, Calixto é parceira de Thiago Paschoa e Arhtur Maia na romântica Teu Ouvido, faixa em que o som do bumbo simboliza as batidas descompassadas de um coração apaixonado. Em linha mais bem-humorada, Je Suis la Maria (Dora Lopes, Jorge Rangel e Jean Pierre) leva o samba para um salão de gafieira por conta dos sopros arranjados por Marcelo Martins. Aliás, há todo um frescor nos arranjos que valorizam até sambas medianos como Blá Blá Blá (Serginho Beagá) - efeito provável da produção de Flor Morena ter sido confiada ao baixista Arthur Maia, nome pouco pronunciado nos quintais onde se cultiva o samba mais tradicional. Maia pilotou o álbum com respeito às tradições do samba, mas sem os clichês recorrentes em discos do gênero. Neste CD pautado pelo sincretismo musical, Ecumenismo (Moacyr Luz e Nei Lopes) reza pela cartilha da diversidade religiosa no mesmo tom libertário da miscigenação saudada em Cafuso (Toninho Geraes e Toninho Nascimento).  Cafuso prepara o terreiro para o fecho de ouro do disco, Reza Forte (Rodrigo Maranhão e Mauro Reza), samba-jongo que explicita a criação mineira da artista enquanto festeja a nobreza suburbana na qual está enraizado o samba cultivado nos quintais do Rio de Janeiro. Muito superior ao primeiro disco da cantora, Flor Morena alicerça a voz, a imagem e o samba reverente de Aline Calixto. (Notas Musicais)


12 Cabila by Aline Calixto on Grooveshark

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