“Oração” voltou e talvez não suma tão cedo. A música d’A Banda Mais Bonita da Cidade agora faz parte de um CD que promete fazer mais um Fla-Flu entre público e crítica. Às primeiras audições, o hype-hippie-fofinho ainda está lá, mas não vem sozinho e o CD surpreende.
O álbum começa com a bem-humorada “Mercadoramama”. A letra cotidiana e a linda voz de Uyara Torrente (como soa diferente da “música da penteadeira”…) agradam e o refrão, mesmo cantarolante, conquista. Em seguida, “Aos Garotos de Aluguel” (canção da conterrânea Poléxia, ex-banda do guitarrista Rodrigo Lemos). Irônica e de sonoridade forte, é um dos grandes destaques.
A primeira derrapada vem com “Boa Pessoa”, uma música que simplesmente não cresce. A partir daí, o CD parece estar dividido em dois blocos: um de músicas mais obscuras e interessantes e um outro com uma simplicidade sem graça em muitos momentos.
“Bailarina Torta” tem o charme de melodia irregular, com um piano dramático e desafinado no limite do dolorido. Depois, a esquizofrênica “Oxigênio”, que parece seguir a fórmula da anterior até assustar com um country, um coro e gritos. Fechando o bloco, “Ótima”. Uma ode à depressão – quem diria –, a faixa exagera na tinta, mas deixa claro que nem só de fofurice vive o grupo.
Passada a surpresa, o restante do álbum retoma as letras singelas e a sonoridade leve. “Canção Pra Não Voltar” e “Cantiga De Dar Tchau” têm melodias bem desenhadas e melancolia na medida certa. “Se Eu Corro” começa preguiçosa, mas ganha peso e agrada.
“Solitária” e “Nunca” são duas outras canções que não crescem. A primeira força a barra com uma estranhíssima parte falada e teatral. A segunda perde a oportunidade de ser grande por exagerar na simplicidade, apesar da bela interpretação.
Um capítulo a parte
“Oração” está lá como 11ª faixa e, mesmo com arranjo diferente, continua repetitiva e “pentelhamente” fofa e alegre. Mas, não há como negar, é o carro-chefe da banda e não vai ser apagada de sua biografia. O vídeo e seu sucesso deram uma força desproporcional à música, mas ela serviu ao que se destina: chamou a atenção e colocou o grupo, ao mesmo tempo, em evidência e no olho do furacão.
A história da banda se assemelha a de outros artistas desta geração, como Mallu (não mais Magalhães). A Banda surgiu e cresceu na internet. Fez um belíssimo plano-sequência para o lançamento de sua música que hoje, quase seis meses depois, tem mais de oito milhões de visualizações no YouTube. A novidade fica por conta do financiamento do primeiro CD, realizado com a ajuda de fãs por crowdfounding e disponibilizado de graça (link do site oficial no final do texto).
Já a discussão sobre a tal qualidade do hype não é nova – lembrai-vos de “Anna Julia”, do Los Hermanos, e dos primeiros trabalhos da própria Mallu – e não há previsão de consenso. O fato é que torcer o nariz para “Oração” e desistir de ouvir o resto do trabalho é um erro. A sonoridade deste primeiro CD é tão variada e competente que parece difícil não encontrar pelo menos uma coisa que agrade os ouvidos.
Produções bem-feitas e independentes como esta merecem uma audição mais atenta e desarmada. No caso d’A Banda Mais Bonita da Cidade, o hype provoca, mas infeliz de quem tomá-lo por repelente e deixar de conhecer as outras facetas do grupo (Scream &Yell 2.0).
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