jueves, 19 de julio de 2012

Chico Buarque - Chico (2011)

Chico (2011)

O tão aguardado novo disco de Chico Buarque finalmente sai do forno para saciar (ou não) o apetite dos fãs e do público em geral que há cinco anos aguardam por esse momento. Canções como “Querido Diário” (Chico Buarque) e “Essa Pequena” (Chico Buarque), baseiam-se em temáticas que parecem varrer o cotidiano de Chico Buarque, o que sugere, ser o escopo principal do disco.

O disco é simpático, menos sisudo que alguns lançamentos anteriores, e tem tudo para agradar a maioria das pessoas que ouvirem o disco com atenção. O que talvez pode deixar o fã um pouco triste é o fato de o disco dispor de apenas trinta minutos de música, divididos em dez faixas. Por outro lado, Chico está mais acessível nesse álbum, fugindo de letras longas demais, e apostando em faixas bem definidas, compreendidas entre seus limites, apesar de, em sua maioria, beirarem uma temática relativamente pessoal, o que talvez seja a justificativa para a simplicidade do nome do novo CD.

Um dos destaques do disco é o vocal de Chico, inspirado e enquadrado em correta grandeza nas faixas, como é percebido na canção “Rubato” (Chico Buarque e Jorge Helder), segunda música do álbum, onde Chico usa de sua experiência para ditar vocalmente o ritmo mambembe da faixa.

Se algo no disco incomoda, esse algo é o abuso ao piano, o que não chega a eclipsar a beleza de faixas como “Essa Pequena” que, apesar de letra interessante e reflexiva, musicalmente a levada transita em algo que alude ao som “piano-bar”, um blues talvez, sendo que a canção merecia uma levada com um pouco mais de malemolência, o que poderia fazê-la funcionar bem melhor.

“Tipo Um Baião” (Chico Buarque) não é exatamente um baião, na verdade, se é, o é muito pouco. Contudo, independente disso, a canção brinca com um inesperado cadenciamento ao longo da faixa, além de apresentar um coro feminino elaborado no estilo retrô e guitarras perceptíveis, transformando a faixa em uma das mais diferenciadas do disco.

Algo que também chama atenção no disco são os duetos do álbum. Em “Se Eu Soubesse” Chico e a cantora Thais Gulin duelam em uma bela faixa, uma das melhores do álbum. A já conhecida “Sou Eu” (Chico Buarque e Ivan Lins) é outro ponto alto do disco, pois a parceria vocal de Chico com Wilson das Neves e o Samba que narra esse encontro, conseguem colorir e dar mais vida ao álbum. É uma pena que momentos como esse só ocorrem novamente no álbum em “Barafunda” (Chico Buarque), outra bela criação de Chico, e que emula essa vertente sonora, o que cai como uma luva para a inventiva composição.

O disco encerra com a canção “Sinhá”, samba de temática Afro, relacionada ao Brasil Imperial, que conta com João Bosco no violão e em agoniados vocais, resultando em uma brilhante canção que rapidamente eleva a música a uma importante posição dentro do cancioneiro de Chico Buarque.

Se em outros tempo, os discos de Chico brincavam com a falta de formato e com o despojamento de faixas que iam de Sambas casuais à instrumentais beirando ao caos sonoro, aqui em “Chico” tudo é muito rico, límpido e formatado, muito embora as canções sejam criativas e de grande bom gosto. A canção “Sem Você 2” é um bom exemplo de uma faixa que teria muito mais a dar se nela fossem experimentados alguns arranjos que fugissem do formato mínimo.

Talvez basicamente essa seja a grande diferença entre os álbuns antigos de Chico Buarque com os mais recentes, mas como eu disse, os tempos são outros.

Sinhá by Chico Buarque on Grooveshark

domingo, 8 de julio de 2012

Rodrigo Campos - Bahia Fantástica

Bahia Fantástica


Disco de estreia do cantor, compositor e instrumentista Rodrigo Campos, São Mateus Não É um Lugar Assim Tão Longe (2009) não recebeu a atenção merecida. Nele, o rapaz nascido em Conchas (SP) já se revelava, além de um virtuoso cavaquinista, um letrista capaz de traduzir a periferia de São Paulo. Bahia Fantástica, seu novo álbum, inspira-se no estado nordestino, onde passou dez dias. Ele deixa o cavaquinho de lado, empunha o violão e explora o trabalho. A estreia ocorreu no fim de maio, no Sesc Vila Mariana, e ficou marcada pela linda interpretação que Juçara Marçal fez de Jardim Japão. Ele conta com a companhia de Kiko Dinucci, Luísa Maita e Juçara Marçal.
Você ficou conhecido por ser um dos compositores que melhor traduz São Paulo. Aí você lança um disco inspirado na Bahia. Por quê?
Compor sempre dentro de um tema específico desgasta o artista. Eu tinha vontade de sair daquele território para ter motivação. Joguei o meu olhar para outro lugar. Foi aí que surgiu a Bahia. Passei dez dias lá. Sempre tive preconceito de quem escreve sobre coisas de que não tem conhecimento, porque soa fake. Aí me peguei nesse papel. Para resolver isso, fui questionar essa Bahia, que se tornou uma metáfora. Não é apenas geográfico, tem uma sensação.
As pessoas costumam retratar a Bahia de forma alegre. Você fez o oposto…
Eu tive uma crise existencial. Comecei a pensar no sentido das coisas e na morte. Confrontei tudo isso. Por isso, o disco fala da incompreensão do fim e sobre o medo de estar diante de algo que você não entende.
Por que trocou o cavaquinho pelo violão nesse trabalho?
Não quis tocar cavaquinho pelo estigma mesmo. Qualquer coisa que você tocar no cavaquinho vão dizer que é samba. Eu quero deixar claro que São Mateus Não É um Lugar Assim Tão Longe não é um disco só de sambas. Os dois trabalhos partem de histórias ou de algo que eu vivi. Isso é mais importante do que qualquer gênero. Mais para frente, quero voltar ao cavaquinho de maneira profunda para explorar outras sonoridades.
O rótulo de sambista te incomoda?
Eu me sinto sambista e venho do samba. Mas quando me rotulam, impedem que as pessoas possam detectar outras coisas no disco. Eu trabalho do ponto de vista de alguém que veio do samba para me apropriar de outras linguagens. Lá em São Mateus, ninguém acha que o meu primeiro disco é de sambas. Já os indies acham…
Ribeirão, Jardim Japão e Morte na Bahia são cantadas por outros intérpretes. Tem algum motivo específico?
Todo esse processo foi natural. O Criolo, por exemplo, chegou ao estúdio quando eu estava registrando a voz de Ribeirão. Acabou gravando. Eu prefiro que as pessoas cantem sozinhas para soar como um alter ego. Assim não parece que são dois personagens. As participações ajudam a dar uma dinâmica.
Os personagens das suas músicas existem ou são inventados?
São Mateus Não É um Lugar Assim Tão Longe é bem autobiográfico. Em Bahia Fantástica, me permiti inventar pessoas que eu não conhecia. Apesar disso, tudo o que a gente imagina vem de algo que a gente já viu.
Como foi a direção do Romulo Fróes?
O Romulo entrou como um “assistidor” ou um comentarista de ensaios. Os comentários dele sempre foram muito ricos. Ele sugeria arranjos e tirava de rótulos. Ele foi um conselheiro mesmo. Um monte de gente assina a produção do disco, porque foi um trabalho conjunto. Se ele fosse um instrumentista, talvez estivesse tocando também. A presença dele foi importante, mas todos tiveram o mesmo peso.

Jardim Japão by Rodrigo Campos on Grooveshark