lunes, 26 de marzo de 2012

Marina de la Riva - Idílio

 Idílio

“Idílio” é um álbum que nasce em preto e branco, nas palavras próprias de Marina de la Riva. Não é primogênito. Da mesma lavra, vem uma possível dívida a qual alguns insistem em bancar existência nos cantos contemporâneos do país, como se estívessemos em uma adulação forçosa e constante para com o passado. De la Riva certamente é um possível alvo deste argumento. O consolo é que Lobão e sua expressividade artística em seu trato com as câmeras – e nunca mais com suas guitarras – já garantiram-no na direção de Maria Rita. Ou seja, a luta está num front no qual uma aspirina cortada pela metade já pode dar jeito na dor de cabeça momentânea.
De alguma forma, essa ponte latinoamericana que busca Marina e que é frequentemente citada pelos textos promocionais (ainda que alguns citem-se como críticos) terá que ser superada em suas primeiros reflexos de euforia e repulsa. Não há motivos para euforia porque a carioca comumente associada a seu pai e seu avô cubanos já havia registrado seu debute nessa ilha e o sabor do seu canto fresco – pelo surgimento – se enroscava a essa busca pelas texturas de seus laços.
Marina parece denunciar um péssimo jornalismo cultural deste momento pois os registros de sua persona são sempre pouco encantadores. Se não é culpa dos profissionais a busca por respostas como “sei que dou trabalho na hora de colocar meu CD em uma prateleira de lojas / meu tempo não é o da indústria, é o mesmo de uma fruta. Preciso amadurecer minhas produções para depois vendê-las”, então é hora de encerrar as ligações biográficas porque o interessante parece mesmo estar na música. E, tal como foi com Marina de La Riva, de 2007, em Idílio, a clareza do entorno que envolve a cantora é singular.
Antes de uma das gravações mais belas do ano, “Y”, “Idílio” abre com “Añorado Encuentro”, de Piloto Bea e Vera Morua, e quando pronucia “Hoy”, Marina diz do hoje e, ao mesmo tempo, encanta o leigo como se dissesse “oi”, como se mesmo não importasse o porquê do espanhol, o porquê do português. É um dos discos de 2012 pois encanta como disco. De voz que excita a cantora em torno de sua capacidade de interpretar, posto que esta é longe do exagero, de la Riva é, além de tudo, uma que preenche a cota que a ignorância não deixou umas tantas outras vozes femininasm, que pareciam levar aos encartes todo o cheiro do restaurante vazio na figura de repertório fraco (e, por vezes, sem nenhuma esperteza apelativa), preencherem.
Ao lado de Céu e Ava Rocha, é uma das cantoras mais interessantes. Com Pupilo, requisitado baterista da Nação Zumbi, constrói “Idílio” na combinação dos cancioneiros cubano e brasileiro, em um elenco que inclui Raul Souza e Pepe Cisneros, arranjo de Luizinho 7 Cordas para “Deixa Que Amanheça”, conhecida na voz de Emilinha Borba, uma peça mais deconhecida de Vinicius de Moraes, “Ausência” e o choro de “Propriedade Particular”, samba de Lulu Santos que fora deixado para comércio na loja iTunes em versão deluxe.
Infelizmente, parece irresistível às rádios e ao público o ocaso desse universo de interpretações femininas da MPB, todas permeadas de vícios ao lidar com a tradição. “Idílio” dificilmente conseguirá romper essa percepção pois não nasceu pra isso. Contraditoriamente, “Idílio” é um dos melhores de 2012 mas não é de agora. Idílio se comporta não por ser conservador, mas por ser transgressor uma vez que os lábios femininos entorpecem com tanto batom, gosto de cerveja e oportunismo entoados e estocados nas prateleiras poeirentas das lojas que venderam o álbum não só sem “Propriedade Particular”, mas também sem “Tu Me Acostumbraste”, bolero de Frank Domingues.

Estupido cupido by Marina de la Riva on Grooveshark

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